Site da BBC dá destaque a “país que adora estar triste”. Não é preciso muito para adivinhar qual…
Um país triste, misterioso, carregado de saudade e onde ninguém diz “bom dia”. Esta é a perspetiva do cronista Eric Weiner sobre Portugal, num longo artigo que mereceu destaque no site da BBC
Com o título “O país europeu que ama estar triste”, a crónica publicada na BBC refere que em Portugal ninguém deseja um bom dia a ninguém. Se perguntar a um português ‘como está?’, a resposta mais entusiasmada que poderá receber é um “so so”, ou seja, um ‘mais ou menos’.
Aparentemente, somos um povo contente por ser descontente – por isso, ninguém deve sentir pena dos portugueses.
Eric não acha que isto seja mau. Pelo contrário. Considera, inclusivamente, que Portugal tem muito para ensinar lá fora, nomeadamente acerca da beleza e da alegria escondidas por detrás da tristeza.
"The Portuguese have much to teach us about the hidden beauty, and joy, in sadness." @BBC_Travel https://t.co/kULaxjuF4c
— Eric Weiner (@Eric_Weiner) 30 de novembro de 2016
Como é que Eric Weiner conseguiu perceber isto tudo? Passando um bom tempo – não especifica quanto – em Portugal e falando com muitos portugueses (inclusivamente com a fadista Cuca Roseta). Eric é um premiado jornalista norte-americano, autor do bestseller do New York Times “The Geography of Bliss”. Tem uma coluna na BBC Travel chamada “The Places that Change You” e é neste segmento que se insere o artigo sobre Portugal.
Tentar perceber o significado da palavra saudade foi um grande desafio que enfrentou em Portugal. Diziam-lhe que não havia tradução possível, mesmo “antes de procederem à tradução”, brinca. O que é que ele entendeu? Que “a saudade é um anseio, o sofrimento por uma pessoa, lugar ou experiência que uma vez nos trouxe grande prazer. É semelhante à nostalgia mas, ao contrário do que acontece com a nostalgia, é possível sentir saudade por algo que nunca aconteceu e provavelmente nunca vai acontecer”.
Em Lisboa, bebeu um café no Largo de Camões, passou pelo Cais do Sodré e pelo Chiado. Por esses sítios, encontrou uma psicóloga e um inspetor da polícia que o ajudaram a perceber duas coisas. Primeiro, que a saudade nos permite sentir mais e que evitá-la só nos diminui. Segundo, que a pior coisa que se pode fazer a um português triste é tentar animá-lo.
Da mesma forma que Eric Weiner não poderia sair de Portugal sem ouvir fado, também não poderia escrever uma crónica que falasse de saudade sem mencionar o fado. Foi ouvir este estilo lusitano ao Clube de Fado e garante que “ninguém faz música triste como os portugueses”.
Já no Estoril, encontrou-se com a fadista Cuca Roseta que lhe explicou que, neste tipo de música, o fadista se entrega ao público. Percebeu que a melodia desta nova geração do fado se mantém, mas que a letra era ligeiramente mais otimista. Acaba a crónica com uma suposição: “um sinal de que o caso amoroso entre Portugal e a «tristeza alegre» está a diminuir? Espero que não”.
685 pessoas gostam disto. Sê o primeiro entre os teus amigos.
|