Um grupo de cientistas revelou esta segunda-feira parte do segredo por que uma pequena aldeia no sul de Itália tem um número invulgarmente elevado de habitantes centenários: níveis baixos de uma hormona que afeta a circulação sanguínea.
Especialistas italianos e norte-americanos passaram os últimos seis meses a investigar a extraordinária longevidade dos residentes de Acciaroli, onde mais de um em dez – 81, segundo a última contagem feita pelo presidente da câmara – moradores na aldeia de 700 habitantes tem mais de 100 anos.
Acciaroli fica na costa de Cilento, uma zona de grande beleza natural onde o falecido nutricionista norte-americano Ancel Keys primeiro encontrou provas inequívocas dos benefícios para a saúde da dieta mediterrânica, em que se utiliza azeite em vez de outras gorduras e que é rica em fruta fresca, vegetais e peixe.
Além de atingirem idades extremamente avançadas, as pessoas de Acciaroli e de outras pequenas comunidades próximas também parecem geralmente imunes a demência, doenças cardíacas e outros problemas crónicos associados ao envelhecimento na maior parte do mundo ocidental.
Investigadores da Universidade Sapienza, em Roma, e da San Diego School of Medicine disseram hoje que a explicação pode residir nos baixos níveis de adrenomedulina, uma hormona que atua sobre a dilatação dos vasos sanguíneos.
A adrenomedulina está presente “numa quantidade muito reduzida nas pessoas que estiveram no centro do estudo e parece atuar como um poderoso fator de proteção, ajudando a manter em níveis ótimos a microcirculação”, ou circulação capilar, afirmaram em comunicado.
Os vasos sanguíneos capilares tendem a degenerar com a idade, mas os velhos de Cilento têm-nos como se encontram em pessoas muito mais novas, mesmo na década dos 20 anos.
O estudo encontrou também “metabolitos presentes no organismo das pessoas analisadas que podem influenciar positivamente a longevidade e o bem-estar dos centenários de Cilento”, lê-se no documento, que não fornece mais pormenores.
Os especialistas decidiram prolongar o seu estudo e alargar o âmbito da investigação, para tal lançando, inclusive, uma campanha de recolha de fundos.
Além de testes ao sangue, os investigadores também realizaram exames cardíacos e neurológicos, disse Alan S. Maisel, o cardiologista de San Diego que coordena o projeto, citado pela agência de notícias francesa, AFP.
Os cientistas estão a debruçar-se sobre se a genética, associada a fatores de estilo de vida — como a dieta e a atividade física -, poderá estar a contribuir para aumentar a longevidade dos aldeões.
Todos os habitantes da zona de Cilento comem alecrim — cujo efeito de melhoria das funções cerebrais é conhecido — quase todos os dias e também praticam alguma atividade física diária, como pescar, caminhar ou dedicar-se à jardinagem, outra linha de investigação para os cientistas.
Antes da divulgação dos resultados hoje efetuada, Maisel apontou igualmente para o que poderá ser outro ingrediente importante da receita para uma vida longa e feliz.
“A atividade sεxuαl entre os idosos parece ser intensa”, indicou, acrescentando: “Talvez viver muitos anos tenha algo a ver com isso, e provavelmente o ar saudável e a ‘joie de vivre'”.
Fonte: Lusa