José Sócrates, afinal, vive de quê? Isto chama-se PORTUGAL
Designadamente, passagens de ano em Veneza e Espanha que custaram dezenas de milhares de euros quando ainda era primeiro-ministro, férias de verão no estrangeiro ou a desafogada ‘vida de estudante’ em Paris.
Recusando explicar fosse o que fosse, Sócrates acusou a direita partidária e comentadores em geral: «Eu aceitei ser ajudado. Como não há crime, há pecado, e vejo agora para aí alguns armados em brigada de bons costumes».
Há uma semana, Sócrates convocou os jornalistas para uma conferência de imprensa, a pretexto de reagir às declarações de Amadeu Guerra, diretor do Departamento de Investigação e Ação Penal, segundo o qual a investigação da Operação Marquês pode não ficar terminada em setembro.
Voltou de novo a vitimizar-se, a insultar as autoridades judiciárias e a levar o processo para o campo político – desta vez, dizendo que o Ministério Público quis impedir que se candidatasse a Presidente da República. E chegando até, com a extrema humildade e a noção das realidades que o caracterizam, a comparar a sua situação em Portugal à de Hillary Clinton sob o fogo cerrado dos republicanos nos EUA… A rematar, disse que as suspeitas de que recebeu ‘luvas’ nos negócios da PT e do GES em 2010 são mais uma infâmia e prometeu processar o Estado português «nos tribunais internacionais» pela demora na investigação.
A certa altura da conferência de imprensa, como quem não quer a coisa, José Sócrates anunciou o seguinte e já sem aquele tom irritado de quem não gosta de dar explicações à «brigada de bons costumes»: «Eu, quando fui detido, fui obrigado a vender a minha casa – desde logo para pagar ao meu amigo, como já expliquei, e que pretendia ter feito antes. Decidi vender a minha casa, pagar ao meu amigo e fiquei ainda com algum dinheiro. E, para além disso, vi-me forçado, pelas circunstâncias a que o Estado me colocou, a pedir a subvenção vitalícia, coisa que nunca tinha pedido porque não tinha precisado dela, mas vi-me forçado por estas circunstâncias a fazê-lo».
Politicamente experiente e hábil como poucos, Sócrates sabe perfeitamente qual é a pergunta que há já algum tempo anda na cabeça de toda a gente (e que necessariamente estará a ser investigada no processo), que é muito simples: afinal, ele vive de quê? E esta foi a verdadeira razão da conferência de imprensa de há uma semana: aproveitar a oportunidade que Amadeu Guerra lhe deu para tentar explicar o inexplicável. Só que, mais uma vez, tentou fazer-nos de parvos.
O ex-primeiro-ministro referia-se à subvenção vitalícia a que tem direito por via dos anos em que desempenhou cargos políticos e que, segundo noticiou o Correio da Manhã, não será inferior a 3.800 euros.
Sabe-se que Sócrates vive neste momento num apartamento de 100 metros quadrados no Parque das Nações, em Lisboa, perto do Oceanário e da marina da Expo, devendo pagar uma renda mensal que rondará os 2.000 euros. Além disso, tem dois filhos e a mãe a cargo, todas as despesas que o comum dos portugueses tem e ainda dois advogados, um assessor de imprensa e custas do processo em que é arguido. Vendeu no ano passado o célebre apartamento na Rua Brancaamp, no edifício Heron Castilho, por 675 mil euros, e diz que, com isso, pagou ao amigo (250 mil euros, segundo consta no processo) e ainda ficou com dinheiro. Mas esquece-se de dizer que antes tinha contraído um empréstimo de 250 mil euros junto da CGD, hipotecando a mesma casa – a qual, para poder ser vendida, implicou resolver primeiro esse empréstimo.
Ou seja, nada bate certo, mais uma vez. Sócrates, o ex-primeiro-ministro, mantém em 2016, perante os jornalistas, a mesma desfaçatez que teve em novembro de 2014, quando respondeu ao juiz Carlos Alexandre e ao procurador Rosário Teixeira: «Nunca tive meios de fortuna. É assim. Carlos Santos Silva é meu amigo e é um homem de posses. E eu sou um pobre provinciano que andou na política durante uns anos…».
Como diz o povo e nunca é demais recordar, é possível enganar todos durante algum tempo, é possível enganar alguns durante o tempo todo, mas não é possível enganar todos durante o tempo todo.
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