Móveis, cortinas para as banheiras, pequenos eletrodomésticos como computadores, televisores e videojogos, carpetes, cosméticos, purificadores de ar, sabonetes, brinquedos para os mais pequenos e materiais de construção
Estes e mais alguns entram, direta ou indiretamente, no quotidiano de todos – também nas escolas, escritórios, ginásios, automóveis e até unidades hospitalares -, mas podem estar a matar-nos silenciosamente.
A conclusão é de um estudo multidisciplinar que mostra que há substâncias perigosas que são libertadas pelos produtos que temos em casa, tornando-se parte do ar que respiramos e poeira doméstica. Essas toxinas, dentro das habitações, acarretam perigos endócrinos, imunológicos, reprodutivos e neurológicos, podendo mesmo causar cancro.
Muitas pessoas estão longe de imaginar que alguns dos aparentes aliados para o bem-estar nas suas habitações podem ser os maiores inimigos para a saúde. Há muito se sabe que os plásticos e produtos químicos em nada contribuem para uma vida saudável, mas agora há a certeza de que alguns são mesmo muito perigosos. Ao todo, a equipa de cientistas – composta por sete investigadores de três universidades diferentes e dois grupos ambientalistas, que agora publicou as suas conclusões na Environmental Science and Technology – analisou dados científicos e identificou as 45 substâncias – ftalatos, fenóis, retardadores de chamas, produtos químicos fluorados e fragrâncias – que mais são libertadas pelos produtos, tornando-se parte do ar que respiramos e poeira doméstica. Toxinas que, no limite, podem causar doenças oncológicas. Isto porque, em forma de poeira, “podem entrar no nosso corpo”, resumiu, como alerta, Ami Zota.
A professora assistente da Faculdade de Saúde Pública do Instituto Milken da Universidade George Washington e coautora do estudo, acrescentou ainda a certeza de que “esses produtos químicos, mesmo em baixos níveis, podem provocar efeitos negativos à saúde”: “As descobertas sugerem que as pessoas, especialmente as crianças, são expostas diariamente a vários produtos químicos em pó, que estão ligados a problemas graves de saúde.”
Mais expostos ao risco estão os mais novos pois, como é próprio da idade, são os que mais contactam com o pó e com tudo o que é sujidade, enquanto gatinham, brincam no chão e levam as mãos à boca. E, porque os cérebros e os corpos ainda estão em desenvolvimento, podem ser mesmo as crianças as mais vulneráveis aos efeitos negativos dos produtos químicos.
Para os resultados agora divulgados contribuíram informações recolhidas em estudos publicados desde 2000, com base em amostras de poeiras retiradas de casas em 14 estados norte-americanos. A partir desses dados foi calculada a média de níveis de produtos químicos e a estimativa da quantidade que entra no corpo humano, medindo os pressupostos perigos.
Perigo sempre à mão
O termo “produtos químicos” já soa a perigo, mas ninguém sabe bem onde eles estão e quais os mais prejudiciais. Por exemplo, o monóxido de di-hidrogénio é uma forma pouco comum de chamar água, sendo a substância que mata milhares de pessoas todos os anos, a maioria por a ter inalado acidentalmente. É usado como supressor ou retardador de chama e a sua ingestão pode provocar náuseas e vómitos, enquanto a exposição prolongada à sua forma sólida pode danificar, muitas vezes irreversivelmente, tecidos vivos.
Mas, nas residências particulares, não faltam outros inimigos e o melhor é prestar atenção às etiquetas e à composição do que nos rodeia, conhecendo as siglas que os identificam. Aliás, uma pesquisa publicada em março provou que a leitura dos rótulos de ingredientes dos cosméticos leva a uma aquisição mais inteligente e a uma redução da exposição.
Trocando por miúdos e como exemplo, o TCEP ou tris (2-cloroetil) fosfato é um retardador de chama comum nos móveis e nos colchões para crianças. Já o DEHP ou di (2-etilhexil) ftalato é a toxina que mais nos ameaça, podendo estar nos fios e cabos, pisos em PVC (vinil), persianas e estores e até em dispositivos médicos. Segundo Ami Zota, o HHCP ou galaxolide, muito usado em fragrâncias, é um provável disruptor endócrino, ou seja, uma substância exógena que age como hormonas no sistema endócrino, podendo causar infertilidade, entre outros problemas.
O Spring Institute, que participou da pesquisa, oferece um aplicativo gratuito – Detox Me – para ajudar as pessoas a saberem como desintoxicar as suas casas em prol de uma vida saudável.