Um cartoon do autor português Vasco Gargalo sobre a guerra na Síria, inspirado em “Guernica”, de Picasso, já deu a volta ao mundo, graças à Internet, e deu-lhe também um protagonismo inesperado em Portugal.
“Aleppo(nica)”, assim se chama o cartoon que Vasco Gargalo publicou em maio, no blogue pessoal, e que disponibilizou em agosto na plataforma Cartoon Movement. Desde então, o trabalho ganhou uma projeção internacional que o autor não estava à espera, lá fora e em Portugal, como contou à Lusa.
No cartoon, Vasco Gargalo recria a famosa obra “Guernica”, pintada por Pablo Picasso há quase oitenta anos, para abordar o conflito na Síria, os protagonistas e as vítimas. Nele se podem ver o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o presidente da Síria, Bashar al-Assad, crianças, bombas, armas, desespero e morte.
“Eu costumo dizer que, enquanto cartoonista, tenho um compromisso com o mundo. Andava atento sobre a guerra na Síria e queria fazer um cartoon sobre o tema, queria fazer uma síntese sobre o que se passa, respeitando o formato e as figuras representadas na obra de Picasso”, explicou.
Vasco Gargalo, 39 anos, cartoonista e ilustrador que mantém colaborações esporádicas com a imprensa portuguesa e alguns media internacionais, viu o seu nome e trabalho terem uma visibilidade maior com aquele cartoon.
Eu não tinha noção do que se estava a passar depois de ter sido divulgado no Cartoon Movement, onde teve muitas visualizações, até que começaram a surgir solicitações para falar sobre o trabalho. Foi a Al-Jazeera, a imprensa francesa, depois dois jornais na Dinamarca e na Suíça. Tornou-se viral sem eu me aperceber e tem sido um reboliço”, contou.
Vasco Gargalo já desenhou muitos cartoons sobre conflitos, em particular sobre a Síria e sobre as vítimas mais inocentes, as crianças, e também não lhe escapa a política internacional, das disputas eleitorais nos Estados Unidos, às demonstrações de força na União Europeia.
Mas foi “Aleppo(nica)” que chamou mais atenção, talvez “pela leitura imediata e pelo reconhecimento de um quadro tão famoso em todo o mundo. Só prova o poder do cartoon. Nunca imaginei que pudesse dar assim a volta ao mundo”, disse.
A obra de Picasso, criada em 1937, na sequência do ataque nacionalista à cidade basca, durante a Guerra Civil de Espanha, é familiar ao cartoonista. Vasco Gargalo disse conhecê-la muito bem, desde a infância, por ter convivido com uma reprodução na casa dos pais, em Vila Franca de Xira, onde nasceu.
A par de sites e da imprensa internacional, o cartoon deu-lhe ainda mais visibilidade também em Portugal, onde diz ser um ilustrador precário, um “camaleão”, sem uma colaboração fixa e que se adapta tanto à área editorial como à ilustração.
O blogue e as redes sociais ainda são a ferramenta mais fácil de divulgação do trabalho que, além do cartoon inclui ilustração de livros para crianças, como o que acaba de editar, “Amadeo de Souza-Cardoso — tenho mais fases que a lua”, com texto de João Manuel Ribeiro, pela Opera Omnia.
Fonte: dn