Esqueçam lá o Ronaldo… Há um novo herói em Portugal e chama-se António Félix da Costa
É a sina de ser português, diz-se por aí. Mas isso não impediu António Félix da Costa de voltar a demonstrar que é um dos melhores pilotos do mundo, num fim-de-semana de sonho para as cores portuguesas, em Macau (com o triunfo de Tiago Monteiro no TCR) e no WEC (com a conquista de Rui Águas nos GTE-Am e o vicecampeonato de Felipe Albuquerque nos LMP2).
Foi uma vitória arrancada a ferros, mas em que a classe e talento do vencedor nunca estiveram em causa. Um triunfo num carro sem patrocinadores, como o próprio fez questão de referir na conferência de imprensa que se seguiu à conclusão da prova, e que no entretanto já deve ter deixado umas quantas empresas arrependidas.
António aceitou o convite surpresa de Trevor Carlin, com quem trabalhou na GP3 e venceu a edição de 2012 do GP de Macau, para regressar ao Circuito da Guia. E a emoção tomou conta de todos no final da corrida: do piloto à equipa, e dos portugueses que fizeram questão de entoar “Campeões! Campeões! Nós somos Campeões!” com o hino nacional como música de fundo.
Em março de 2013, fui a Barcelona assistir aos testes da GP2, na altura com Jolyon Palmer como ponta de lança da Carlin, e nunca irei esquecer o que me disse o patrão da equipa: “O António é um dos melhores pilotos com quem trabalhei. Um tipo impecável, trabalhador e rapidíssimo, e merece a 100% estar na Fórmula 1 no próximo ano”, contava-me Trevor Carlin, seguro do ‘pilotaço’ que tivera em mãos.
O vaticínio tinha sido dado por quem o conhecia melhor, poucos meses após uma época de sonho para o piloto português. Em 2012, acumulou a GP3 com a estreia nas World Series by Renault 3.5 e em ambas brilhou, conseguindo o ‘passaporte Red Bull’ e uma carreira, dizia-se, na Fórmula 1. Tal não chegou pelas razões que se conhecem – a entrevista que deu ao AutoSport em janeiro foi esclarecedora nesse sentido. Mas hoje voltou a ouvir-se como ele merecia estar nesse lote de pilotos.
Talvez nunca se tenha referido tanto o nome de um piloto português durante a transmissão internacional de uma prova, com os comentadores de serviço, de origem britânica, a questionarem-se também sobre o motivo para António Félix da Costa não estar na Fórmula 1 e ter sido preterido pelo russo Daniil Kvyat. “Esqueçam lá o Ronaldo. Há um novo herói em Portugal e chama-se António Félix da Costa”, disseram, coroando este segundo triunfo do piloto português em Macau. E tinham toda a razão, com o ‘brilharete’ a surgir após muitos anos sem pilotar este tipo de carros e com apenas dois dias de testes para voltar a conhecê-lo.
No entanto, não é mais esta vitória a confirmá-lo. Só mesmo quem não o conheça, e não tenha acompanhado o percurso brilhante da sua carreira, é que poderia duvidar das suas qualidades nesta profissão que ele escolheu e que o acolheu, com muita entrega e sacrifício pelo meio. O patriotismo faz-se ouvir agora, e com todos os motivos para tal. Mas a memória é curta, e nos momentos maus nem sempre o ouvimos. Era bom que todos se lembrassem destes feitos com maior frequência, tal como em seu tempo aconteceu nos ralis com Armindo Araújo, por exemplo. Mas isso agora não interessa nada. Afinal, hoje é dia de festa… portuguesa, com certeza!
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