É revoltante o que ainda acontece com Hugo Ernano! O que mudou!

Na tentativa de deter uma carrinha Ford Transit que transportava os assaltantes de uma vacaria, em Santo Antão do Tojal, no concelho de Loures, Hugo resolveu apontar aos pneus do veículo.

Quando disparou para o pneu direito, um solavanco na estrada fez a bala atingir a traseira da carrinha. Só quando os assaltantes finalmente pararam é que o militar percebeu que havia uma criança escondida na parte de trás da carrinha. Tinha-a atingido.

O rapaz de 13 anos não sobreviveu.

Condenação na justiça vs. apoios de peso

Em outubro de 2013, o Tribunal de Loures condenou o GNR a nove anos de prisão e a indemnizar em 80 mil euros os pais da criança. O Tribunal da Relação de Lisboa reduziu a punição para pena suspensa de quatro anos de prisão e a indemnização para 45 mil euros. Enquanto o Supremo Tribunal de Justiça manteve a pena suspensa e aumentou a indemnização para 50 mil euros. Esgotados os recursos em Portugal, Hugo irá recorrer para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
A condenação da atuação do militar na Justiça contrasta com a onda de solidariedade que se gerou à sua volta, com várias iniciativas de angariação de fundos para ajudar o militar a pagar a indemnização aos pais da criança. Também o livro agora lançado tem como objetivo contribuir para suportar as custas judiciárias do caso.
As manifestações públicas de apoio a Hugo Ernano estão espelhadas no prefácio da obra, da autoria do ex-ministro da Administração Interna, Rui Pereira.
“Esta condenação – por homicídio com negligência grosseira – tem um forte travo de injustiça”, escreve o ex-governante, que atribui algum desconhecimento dos tribunais: “As decisões judiciais são, em geral, justas. O que falta, por vezes, é a perceção das condições em que se desenrola a ação de polícia”.
Rui Pereira questiona “Que polícias queremos?”, dando o exemplo do “guarda-geleia”, caricaturado por Jô Soares, que tinha medo de tudo e não defendia os cidadãos.

Futuro incerto

Ernano admite que desde o início do processo já fez muitas mudanças de carro e de casa. Mais recentemente, soube que teria a cabeça a prémio por 30 mil euros e apresentou queixa na polícia.
Às acusações de racismo (a família da criança era de etnia cigana), responde que “não escolhe os indivíduos”, e acrescenta: “São eles que nos escolhem a nós”.
A avalanche de acontecimentos levou-o a procurar ajuda psicológica. “Não dormia, sentia um cansaço psicológico tremendo como se fosse rebentar por dentro”, confessa o militar, que integra o Grupo de Intervenção de Ordem Pública (GIOP), na unidade de Lisboa desta força especial da GNR. O processo disciplinar dentro da instituição continua a decorrer, mas permite que se mantenha no ativo, embora sem a possibilidade de ser promovido.
Há 15 anos na GNR, diz que ser militar “é uma condição e não uma profissão”. Quando ingressou na instituição chegava a dormir no posto e fazia patrulhas mesmo quando estava de férias. Aos 21 anos, participou na detenção da própria irmã, na época toxicodependente. Hoje, é padrinho do sobrinho.
O que mais o atormenta é a possibilidade de ser expulso da GNR. “Deixar de fazer o que amo… É insuportável”, admite.

Hugo Ernano usou a sua arma de serviço, pela primeira vez, no dia 11 de agosto de 2008. Um dia marcado para ficar na sua história.

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