Tamanho é o investimento na compra de conteúdos – sobretudo os originais , que por este caminho a Netflix está a comprometer a sustentabilidade do próprio negócio.
A luz vermelha é acionada pelos analistas da Ovum, uma empresa independente de consultadoria com sede em Londres. “Pensamos que o atual modelo de negócio, assente num crescente e maciço investimento, não é sustentável”, alerta Angel Dobardziev, o autor do relatório
Pelos números tornados públicos, a Netflix vai chegar ao final deste ano com um investimento total na aquisição de conteúdos na ordem dos 4.700 milhões de euros e já anunciou vir a desembolsar acima de 5.600 milhões nesta mesma frente no ano que vem. Perante valores desta escala, a Netflix ascendeu ao patamar dos maiores investidores globais em conteúdos. E, baseada na estratégia da galopante multiplicação da oferta, a empresa de subscrição em “streaming” tem vindo a apresentar trimestralmente um crescimento a olhos vistos no número de assinantes. As séries originais, como “Narcos”, “House of Cards”, “Orange is the New Black” e outras mais, têm desempenhado o papel principal na conquista de novos clientes, impulsionando a marca e reforçando o catálogo. Aqui chegados, a Netflix tornou-se líder de mercado no sector, a nível global.
O relatório agora publicado pela Ovum vem, porém, apontar o dedo para o alto risco sobre a rentabilidade da companhia ao prosseguir com este modelo de negócio. No essencial, os relatores esclarecem que os gastos vão para além dos recursos, levando ao enfraquecimento da rentabilidade, a que se soma a prática do reconhecimento atual de apenas pequenas proporções desses investimentos, empurrando mais e mais despesas para o futuro, o que virá a comprometer os ganhos. Em Outubro, a Netflix anunciou melhores resultados do que os esperados, com receitas muito próximas dos 1.900 milhões de euros e um inesperado crescimento no número global de subscritores. As ações da empresa, cujo histórico recente se equipara a um foguete, voltaram a subir.
Os investidores têm apoiado fortemente a empresa na bolsa, mas o relatório antecipa que “a exuberância em torno da Netflix tem paralelo com o (chamado) “boom” dot.com a que se assistiu com as empresas tecnológicas com muitos utilizadores e sem lucros atingiram valores estratosféricos”.
A Ovum antecipa que a atual taxa de crescimento de assinantes não é sustentável a prazo, bem como o controlo sobre o investimento que tem vindo a ser feito. Angel Dobardziev assinala que a Netflix “tem de gastar grandes e crescentes somas na produção de conteúdos originais, no seio de um mercado de produção e licenciamento (de direitos) muito competitivo, mas não conseguirá fazer subir suficientemente os preços para alcançar lucros significativos devido à intensificação da competição.”
O relatório da Ovum conclui que uma das poucas opções para fazer face ao crescimento da dívida passa pela venda a um dos gigantes que se especula têm interesse em avançar com um “takeover” sobre a Netflix: Walt Disney Company, Apple e Google. A dívida a longo prazo da empresa de SVOD está atualmente acima dos 2.800 milhões de euros.
Fonte: expresso