O presidente do Sporting que também é mister escreveu um artigo técnico-tático sobre o jogo desta noite. É ler para crer.
“O Expresso fez-me um desafio especial que foi impossível recusar pela sua originalidade: fazer uma antevisão do Portugal-Áustria, jogo em que estarei presente, numa vertente técnico-táctica. Começo por fazer notar que o texto cumpre duas máximas que tenho: não se rege pelo acordo ortográfico e sofre da parcialidade própria de eu ser presidente do Sporting Clube de Portugal.
Este grupo iniciou-se com duas grandes surpresas: o empate de Portugal e a derrota da Áustria. Se formos apenas pela lógica dos “favoritos”, podemos considerar que lideramos as probabilidades de alcançar o primeiro lugar, bastando apenas vencer os próximos dois jogos.
A nossa selecção jogou dez vezes com a Áustria e apenas ganhou duas, em 1979 e em 1994. Nos restantes resultados temos cinco empates e três derrotas, uma delas por 9-1, em 1953. Está na hora de começar a escrever uma nova era.
Num sistema de 4x4x2 no primeiro jogo, a Áustria teve uma entrada fulgurante contra a Hungria, com um remate de Alaba ao poste aos 28 segundos. Na primeira parte, mais dois lances de perigo, onde o guarda-redes húngaro parou um remate perigoso do avançado Junuzovic e uma jogada entre os alas que terminou numa atrapalhação de Harnik, que falhou de baliza aberta. A segunda parte ficou marcada pela expulsão do defesa central Dragovic, por acumulação de amarelos, e, com isso, a Hungria impôs o ritmo do jogo e num lance rápido de contra-ataque chegou ao 2-0.
O melhor jogador da Áustria foi uma das suas figuras mais relevantes, o polivalente David Alaba. O esquerdino do Bayern de Munique, que joga a defesa esquerdo (e central), actuou no meio-campo e foi o mais inconformado, puxando a sua equipa, sendo preponderante na transição defesa-ataque, dando equilíbrio ao meio-campo e iniciando muitas vezes o processo ofensivo da Áustria. A sua agressividade “enche” o campo e a sua classe de desarme, inteligência de passe e facilidade de remate tornam-no um jogador a precisar de atenção especial por parte da selecção portuguesa. É um especialista em lances de bola parada, pelo que a defesa portuguesa deve ter atenção em evitar as faltas perto da grande área.
A Áustria é uma equipa que aposta numa defesa coesa como ponto forte, onde o capitão Fuchs, campeão pelo Leicester, é o patrão. Conta ainda com o talento de Alaba para municiar um ataque que aposta muito nos cruzamentos para os pontas de lança, onde a referência é Janko, que, não sendo talentoso tecnicamente, é eficaz, sendo o seu jogo de cabeça letal. Neste jogo, Janko andou escondido e não compareceu em campo. Mas esta característica faz da Áustria um adversário muito forte nos lances ofensivos de bola parada, como os livres e os cantos.
Após o mau resultado com a Hungria, o mais provável será a Áustria ir jogar mais recuada no terreno, dando menos espaço, para não ser surpreendida em lances de contra-ataque. A aposta que vão fazer neste jogo deve ser abdicar do ataque continuado e jogar em contra-ataque, para assim aproveitar as faixas para cruzamentos e apostar no jogo aéreo de Janko.
Para contrariar este modelo de jogo, Portugal devia responder com um 4x3x3, com linhas defensivas mais avançadas, encurtando os espaços entre defesa, meio-campo e ataque. A pressão deve ser imediata mal o guarda-redes austríaco lance a bola para o lateral ou para o defesa central. O ataque deve ser móvel, criativo, capaz de criar espaços e contrariar a defesa austríaca, pilar de todo o modelo de jogo da equipa, e, para isso, a minha aposta seria Quaresma, Nani e Ronaldo.
O meio-campo deve ser agressivo, pressionante, com capacidade de anular Alaba e municiar com talento e precisão o ataque de Portugal. Por isto, a minha escolha natural seria William como médio defensivo, actuando nas costas de Adrien e João Mário. Uma atenção especial é o facto de Alaba ir normalmente buscar jogo às alas, e assim, dependendo do lado, Adrien ou João Mário devem pressionar de imediato, tendo para a dobra o lateral respectivo. Ganhar vantagem no meio-campo será fundamental para contrariar o estilo de jogo da Áustria.
Os laterais devem, além da característica defensiva, ser fortes ofensivamente, dotados de rapidez e de capacidade física de resistência. A minha escolha seria Raphael Guerreiro e Cédric Soares.
Sendo os lances de cruzamento e cabeceamento os mais utilizados pelo ataque austríaco, os defesas centrais devem ser altos, fortes na marcação, com muita inteligência posicional, sendo o apoio dos laterais (fazendo o lateral do lado oposto de terceiro central) e médio defensivo (mais no meio da grande área) fundamentais para anular o perigo ou não deixar ganhar a segunda bola. As minhas escolhas seriam Pepe e José Fonte. Como nota, deixo a forma provocadora de actuar do avançado Arnautovic. Os defesas portugueses têm de estar prevenidos para este modo de “jogar” e ter cabeça fria para não se deixarem levar pelo “calor” do momento.
A baliza não deixa dúvidas a ninguém. Patrício é o patrão, e a sua classe já evitou males maiores no jogo contra a Islândia.
Depois deste exercício de “treinador de bancada”, o importante é que, sejam quem forem os jogadores, sejam quais forem os sistemas e modelos de jogo adoptados, Portugal vai vencer!”