As 10 estradas que mais vítimas mortais provocaram em Portugal são todas estradas nacionais que ligam o país como artérias de trânsito intenso e perigoso. Saiba quais são estas vias negras, porque na estrada todo o cuidado é pouco.
Os indicadores da sinistralidade rodoviária em Portugal têm vindo a registar uma evolução positiva na última década, com uma diminuição do número de acidentes, de feridos e de mortos nas estrada.
Ainda assim, Portugal continua longe da média Europeia o que obriga ao reforço das políticas públicas, contempladas no Plano Estratégico de Segurança Rodoviária (PENSE 2020), documento apresentado pelo Ministério da Administração Interna este mês de dezembro e que deverá nortear a estratégia de combate à sinistralidade rodoviária no próximo quadriénio.
O documento faz um completo diagnóstico da evolução da sinistralidade rodoviária em Portugal desde 2010, identifica os problemas centrais e define prioridades de ação.
A localização dos acidentes é um dos temas tratados, por forma a identificar os locais mais perigosos pela sua tipologia. Os acidentes dentro de localidades continuam a ter uma incidência muito superior à média europeia, o que obrigará a apertar o controlo de velocidade e a incrementar infraestruturas de proteção dos peões e de segurança ativa nas localidades.
De acordo com o estudo, “Em média anual, neste período entre 2010 e 2015, os arruamentos e as estradas nacionais representaram conjuntamente, cerca de 80 por cento dos acidentes ocorridos, com particular destaque para os primeiros, nos quais se registaram, em média, 58,5% dos sinistros.”
As estradas mais mortíferas de Portugal são as Estradas Nacionais. É aqui que se registam a maior parte dos acidentes com vítimas mortais ou com maior Índice de gravidade. 36 por cento das vítimas mortais de acidentes em Portugal ocorreram e estradas nacionais, 33% em arruamentos, 9,2 % em autoestradas, 9,2% em estradas municipais, 5,9 % em Itinerários Complementares (IC) e 1,9 % em Itinerários Principais (IP)
A intensidade do tráfego, a deficiente sinalização, o mau estado do piso, a falta de infraestruturas de prevenção (rotundas, semáforos, passagens desniveladas) e, obviamente os erros humanos constituem o quadro negro que transforma estes quilómetros de alcatrão num permanente luto nacional. Vejamos então quais foram as 10 estradas mais mortífera de Portugal nos últimos 5 anos.
EN 1 – Lisboa-Porto
A mais mortífera estrada de Portugal é a mais antiga ligação do sul ao norte de Portugal e continua a ser uma das vias com mais intenso tráfego, muito dele para fugir às autoestradas e que atravessa as regiões mais populosas de Portugal e muitas localidades. Alguns troços desta clássica ligação entre Lisboa e o Porto foram já convertidos em vias rápidas, como é o caso dos que atravessam Leiria, Coimbra e Rio Maior, locais onde a EN 1 também é conhecida como IC2. Mas em muitos locais a EN 1 continua a ser um permanente desafio à atenção e ao cuidado, dada a intensidade do tráfego e a deficiente sinalização.
No período em análise ocorreram na EN 1, 1735 acidentes de que resultaram 75 mortos.
EN 125 – Vila do Bispo- Vila Real de Santo António
Também conhecida como “a maior avenida do país” a EN 125 atravessa longitudinalmente o litoral sul do Algarve, ligando Vila do Bispo a Vila Real de Santo António. É uma estrada de trânsito muito intenso, especialmente após a introdução de portagens na Via do Infante em 2011 que obrigou os automobilistas a procurar uma alternativa gratuita.
Gratuita mas perigosa, já que o número de acidentes disparou em flecha (calcula-se que 30 por cento mais). O facto de atravessar zonas densamente povoadas e com centenas de acessos para locais em ambos os lados da via, aliado ao mau piso nalgumas zonas e à deficiente sinalização, faz da EN125 a segunda estrada mais mortífera de Portugal.
Entre 2010 e 2015, registaram-se 1704 acidentes ao longo da EN 125, dos quais resultaram 66 vítimas mortais
EN 2 – Chaves-Faro
O eixo central de Portugal que liga Chaves a Faro pode ser considerado uma espécie de “Road 66” à portuguesa e uma extraordinária viagem de passeio, mas é também uma das mais mortais do nosso país.
Com 738,5 quilómetros é a mais longa estrada de Portugal e uma das três mais longas do mundo. Atravessa onze distritos, quatro serras, onze rios e trinta e dois concelhos. É por isso natural que figure neste quadro negro da sinistralidade rodoviária já que em muitas zonas é uma estrada movimentada e traiçoeira, com piso degradado e péssima sinalização e infraestrutura.
Está atualmente a criar-se uma associação de municípios atravessados pela EN2, de forma a promover o seu potencial turístico e a requalificá-la, esperemos que também em matéria de segurança.
Entre 2010 e 2015, registaram-se na EN2 um total de 1116 acidentes dos quais resultaram 61 vítimas mortais.
EN 10 – Cacilhas-Vila Franca de Xira
Originalmente, a EN10 era uma via que ligava Cacilhas a Vila Franca de Xira. Após a construção da A1 esta estrada foi reclassificada, estendendo-se até Sacavém, aproveitando o troço da velha EN1 que passou a autoestrada. Ao longo do seu percurso pela margem sul do Tejo atravessa zonas densamente povoadas e entre a Quinta do Conde e Setúbal, atravessa a Serra da Arrábida. A travessia para a margem Norte do Tejo é feita na Ponte de Marechal Carmona. O trânsito intenso e a rapidez do traçado nalgumas zonas criam condições para ultrapassagens perigosas e arriscadas.
Entre 2010 e 2015, registaram-se na EN 10 um total de 1283 acidentes dos quais resultaram 49 vítimas mortais.
EN 118 – Montijo – Alpalhão
A estrada que foi construída para servir de marginal na margem esquerda do Rio Tejo é uma via estratégica e importante que tem trânsito muito intenso nalguns dos seus troços, com muito veículos agrícolas a fazerem parte do seu parque rodante habitual.
A estrada é uma alternativa a EN 3 que faz o mesmo percurso na margem oposta do Tejo e termina em Nisa, onde entronca com a EN 18. No início a EN 118, está irmanada com a EN 119, separando-se as vias no cruzamento do Campo de Tiro de Alcochete.
Apesar do seu traçado retilíneo e facilidade de condução (exceto na zona do Tramagal) é uma das estradas mais perigosas do país, porque mesmo que em número de acidentes não esteja no Top 10, em número de mortos (44) e em Indicador de Gravidade, figura na primeira metade do ranking.
EN 13 – Porto – Valença
A EN 13, conhecida como a estrada do Minho ou a estrada de Entre-Douro e Minho, é a mais antiga ligação entre o Porto e a Galiza, atravessando a faixa costeira das regiões do Douro Litoral e do Minho. A via é utilizada para ligações curtas entre localidades, já que a A28 assegura a ligação rápida entre o Porto e Espanha.
Ainda assim é uma estrada que atravessa zonas densamente povoadas, com trânsito intenso e más condições climatéricas no inverno. A via foi sendo adaptada do trânsito local com a limitação de velocidade e colocação de semáforos, que mesmo assim não impediram que a bonita estrada de largas bermas figure neste ranking da sinistralidade.
Entre 2010 e 2015, registaram-se na EN 13 um total de 944 acidentes, dos quais resultaram 36 vítimas mortais.
EN 109 – Porto-Leiria
Conhecida como a Estrada da Costa da Prata, a EN 109 é assim batizada por atravessar toda a faixa litoral da região centro e muitas das praias da Costa da Prata, como Valadares, Espinho, Esmoriz, Ovar, Mira e Figueira da Foz. É uma estrada com trânsito muito intenso e más condições climatéricas e de visibilidade reduzida, especialmente no inverno.
Entre 2010 e 2015, registaram-se na EN 109 um total de 1077 acidentes, dos quais resultaram 34 vítimas mortais.
EN 18 – Ervidel-Guarda
É uma das mais bonitas e multifacetadas estradas de Portugal, mas não deixa de ser uma das mais perigosas. A estrada atravessa todo o Alentejo, com longas retas desde Beja a Évora, para depois de Vila Velha de Rodão se transfigurar numa via sinuosa que vai ziguezagueando pela Beira Baixa, com a subida da serra da Gardunha em Alpedrinha e a etapa final já na Serra da Estrela até à Guarda. A sua longa extensão e a deficiente manutenção (ou até abandono) em alguns troços torna-a uma estrada de condução difícil e que exige a máxima atenção e cuidado, especialmente durante o inverno, em que o nevoeiro e o gelo na estrada são frequentes nas zonas serranas.
Entre 2010 e 2015, registaram-se na EN 18 um total de 32 vítimas mortais em acidentes rodoviários.
EN 103 – Viana do Castelo- Bragança
Uma das mais duras e traiçoeiras estradas de Portugal que liga o litoral minhoto ao nordeste transmontano. O projeto estratégico era criar uma infraestrutura rodoviária que ligasse as principais localidades da zona raiana do norte de Portugal, o que a obriga a atravessar uma região montanhosa.
O que tem de bela e cénica, tem também de perigosa, especialmente durante o inverno em que o gelo e nevoeiro são antipáticos e habituais companheiros de viagem. É também uma estrada com poucas zonas de ultrapassagem segura o que cria condições para acidentes.
Entre 2010 e 2015, registaram-se na EN 103 um total de 881 acidentes, dos quais resultaram 32 vítimas mortais.
EN 4 – Montijo- Elvas
Também chamada de estrada do Alentejo central, é uma via que liga o Montijo à parte final da A6. O objetivo estratégico desta estrada era ligar Lisboa diretamente à fronteira do Caia, mas isso obrigaria à construção de uma terceira travessia do Tejo na capital.
É uma estrada muito utilizada em alternativa à autoestrada, e por isso com trânsito intenso. Apesar de ser uma estrada de planície, com poucas zonas sinuosas, registou 31 mortos em acidentes rodoviários no período compreendido entre 2010 e 2015, ou seja, mais vítimas mortais do que vias com reputações mais negras como o IP4 ou o IP3.