Venderam-nos a ilusão de uma “saída limpa”. Como hoje está à vista, tudo não passava de um canto-de-sereia, de um truque de ilusionismo ou, mais propriamente, de um slogan eleitoral.
A verdade é que o programa da troika tinha 3 componentes e em todas elas a saída foi tudo menos limpa:

1. Solidez do sistema financeiro
Sabemos hoje que Portugal saiu do programa de assistência com uma crise bancária por resolver: a venda do Novo Banco arrastou-se para que não se conhecesse a fatura que, no final, vai ficar para os Portugueses pagarem; o Banif tinha um buraco gigantesco que havia sido ardilosamente escondido para não levantar suspeitas antes das eleições; e a Caixa acumulava imparidades e créditos malparados sem qualquer solução à vista.
Ou seja, em vez de resolver os problemas, o Governo PSD-CDS foi varrendo o lixo tóxico para debaixo do tapete, de modo a que ninguém o visse. E assim se foi avolumando a sujidade, convenientemente às escondidas de todos nós, enquanto nos apregoavam uma saída esterilizada.
2. Ajustamento das contas públicas
Sabemos hoje que o Governo PSD-CDS nunca conseguiu colocar o défice público abaixo dos 3%. Aliás, nunca cumpriu as metas previstas para o défice:

Relativamente a 2015, por exemplo, prometeram-nos que a execução orçamental seria tão boa que até teríamos direito a um reembolso no IRS. E, afinal, viemos a descobrir após as eleições que era tudo mentira.
Ou seja, apesar dos sucessivos cortes e da “austeridade custe o que custar”, o Governo PSD-CDS não procedeu ao ajustamento devido nas finanças públicas. O que nos coloca agora à beira de sanções.
3. Reformas estruturais
Sabemos hoje que as aclamadas “reformas estruturais” não passaram, ou de medidas excecionais e transitórias (one-off) que nada têm de verdadeiramente estrutural, ou de embirrações estapafúrdias, como a eliminação dos feriados, ou de fanatismos ideológicos de cartilha neoliberal que até aumentaram os encargos do Estado, como no caso dos contratos de associação com colégios privados em locais já servidos pela rede pública de ensino.
E problemas realmente estruturais, como a lentidão dos tribunais, o défice de qualificações, o desemprego, a baixa natalidade ou as desigualdades, não só não foram resolvidos, como nalguns casos se agravaram.
Ou seja, o Portugal diferente que nos prometeram era afinal diferente para pior.
Em suma, interessava tanto ao Governo anterior como à troika construir o mito de uma “saída limpa”. Mas tudo não passou de um embuste! E o que é pior é que tal encenação foi dolosamente montada com vista a ludibriar os Portugueses no ato eleitoral de 2015.
Por isso não se tratou apenas de uma “saída suja”, foi mesmo uma “saída porca”.
Fonte: geringonca