O surgimento de novos formatos de mobilidade e de aplicações móveis que permitem aceder a conceitos de carsharing ou aluguer de automóvel consoante as necessidades tem vindo a lançar o debate: estará a ideia de propriedade tradicional do automóvel, tal como a conhecemos atualmente, em risco de chegar ao fim?
Com a Uber, Lyft, Cabify e MyTaxi, entre outras, a surgirem no mercado com a premissa de oferecerem opções de mobilidade mais versáteis e menos onerosas às populações urbanas, a ideia tem ganho adeptos (e detratores), que abordam essa mudança de paradigma como uma realidade inevitável. Tanto mais que a própria condução autónoma parece vir acelerar este conceito de abandono da posse do automóvel com o seu livrete como hoje temos.
Para Georg Bauer, antigo executivo de marcas como a Daimer, BMW e Tesla, já com um profundo conhecimento de 30 anos na indústria automóvel, essa alteração fundamental poderá decorrer em apenas cinco anos. Procurando adaptar-se a essa situação, Bauer lançou uma nova empresa de financiamento automóvel, a Fair, mas para associação esta nova forma de aluguer e partilha de carro.
Em declarações à Business Insider, o responsável explicou que uma solução de pagamento mensal de uma subscrição para utilização de um automóvel quando querem é o caminho mais adequado no futuro, surgindo antes, mesmo, da entrada em força da tecnologia autónoma nas estradas.
“Penso que é algo que está no horizonte e que vamos assistir entre os próximos cinco a dez anos”, explicou.
Realidade ou ficção?
Ainda que seja um cenário possível e, em certa medida, previsível, a questão da propriedade automóvel poderá não se alterar assim tão rapidamente, como o previsto, embora o afastamento progressivo do automóvel por parte dos mais jovens e a chegada de novas tecnologias possam fazer coexistir estes dois moldes de posse de carro durante alguns anos.
Por exemplo, Bauer reconhece que este cenário poderá não ser tão rápido fora das grandes cidades, onde as pessoas não têm acesso a redes tão vastas e dedicadas de transportes públicos ou de partilha de automóvel, pelo que aí são esperadas algumas décadas para que o paradigma se altere: “Nessas áreas bastante rurais e de campo, diria que irá levar muito mais tempo até se encontrar um modelo económico que funcione”, acrescentou.
Perante este cenário, as próprias marcas automóveis têm vindo a trabalhar em formas de adaptar o seu modelo de negócio a um novo paradigma, com investimentos avultados da General Motors na Lyft e na criação da sua própria companhia de partilha de automóvel, a Maven, da PSA com a estratégia Free2Move e, até, da Volkswagen, que criou recentemente a Moia.
E se as previsões falharem?
Contudo, todas as previsões relativas ao final da propriedade de automóvel têm de ser abordadas como tal, ou seja, como previsões. Isto porque os dados mais recentes de vendas nos Estados Unidos da América (EUA) mostram o oposto. Uma pesquisa da conceituada companhia J.D. Power revelou, em 2014, que a compra de carros novos foi maior, pela primeira vez, entre os jovens nascidos nas duas décadas imediatamente antes de 2000 (Millenials, entre 1980 e 2004) do que na geração anterior (geração X).
Mais recentemente ainda, um estudo da consultora Strategic Vision Inc. mostrou que os jovens estão, na verdade, mais interessados na compra de um carro novo do que em plataformas de partilha de automóveis como a Uber ou a Lyft, conforme noticiou a Bloomberg.
Uma das conclusões foi a de que os Millenials estão mais interessados em carros do que os seus pais e ainda querem a liberdade de ter na sua posse um veículo. Ou seja, mesmo que a entrada em vigor dos esquemas de partilha de automóvel seja uma realidade a médio-prazo, esse terá de conviver com a posse tradicional por mais algum tempo.