Pobres fumam mais e vivem menos dez anos do que os ricos
Conclusões são do sociólogo Ricardo Antunes: trabalhadores de profissões manuais, com menos estudos e de classes sociais mais desfavorecidas fumam mais e vivem menos
As pessoas de classe social mais baixa, com menos escolaridade e com profissões manuais fumam mais e vivem em média menos dez anos do que as mais ricas e escolarizadas, segundo o sociólogo Ricardo Antunes, que estudou este tema.
O sociólogo e enfermeiro estudou ao longo de um ano dois mil óbitos e o percurso da vida inteira dessas pessoas e percebeu que as desigualdades sociais, mais do que as diferenças de género ou geográficas, são determinantes na saúde e no tempo de vida.
Em média, as pessoas de classes sociais mais elevadas, com maior escolaridade e com profissões técnico-científicas vivem em média mais dez anos do que os trabalhadores de profissões manuais, com menos estudos e de classes sociais mais desfavorecidas.
Para estes resultados de saúde contribui em grande parte o tabaco, uma vez que as pessoas com mais escolaridade deixaram maioritariamente de fumar antes dos 65 anos, ao passo que os mais pobres fumam mais e durante mais tempo, muitas vezes até ao fim da vida, sendo que morreram mais cedo do que os que deixaram de fumar.
De acordo com Ricardo Antunes, os comportamentos tabagistas estão frequentemente associados ao álcool e a profissões ligadas à indústria, à agricultura e à construção civil.
A baixa escolaridade destas pessoas leva a que acreditem que fumar e beber só faz mal aos outros, não a quem é forte, não a pessoas que têm profissões de risco e de força, explica.
Mais do que isso, é mesmo um comportamento de grupo, de aceitação, e até os jovens nessas profissões começam a fumar e a beber cedo, porque há todo um contexto que os conduz a esses comportamentos.
“Nas profissões relacionadas com o risco físico — como o trabalho em andaimes ou com tratores — o fumar e beber é quase um prolongamento do risco. É uma representação de força, é só para os fortes. Os consumos de risco têm esse paralelismo por isso: são pessoas que podem arriscar”, explicou à Lusa o sociólogo.
Já as pessoas com maior escolaridade e pertencentes a classes sociais mais altas, que têm profissões técnico-científicas e mais ligadas a serviços – como médicos, advogados, professores, arquitetos -, tendem a deixar de fumar em determinada altura da vida, normalmente ainda antes dos 65 anos.
Excluindo o surgimento de doença, que é um fator que também se revelou determinante para a cessação tabágica, estas pessoas deixam de fumar porque “têm uma perceção mais profunda das coisas” e têm consciência do risco real desse tipo de consumo.
“A escolarização ajuda a destruir mitos”, explica o sociólogo, acrescentando que as pessoas mais informadas acabam por querer adotar, em determinada altura, um estilo de vida mais saudável.
São pessoas que deixam de fumar e esta cessação do tabaco vem associada a uma mudança mais vasta de comportamentos.
“As pessoas adotam outras representações. Mudam tudo. Deixam de fumar e reduzem o consumo de álcool, nos casos em que bebiam em excesso (este foi um padrão claro encontrado nos óbitos] e procuram fazer uma alimentação mais saudável”, disse o investigador.
Há a opção por uma “saúde mais preventiva, mais estratégica”, em que as pessoas tentam “antecipar-se ao surgimento da doença”.
Outro fator diferenciador entre as duas classes é a “autonomia”, pois são os mais escolarizados que têm vidas e profissões com mais liberdade e este revelou-se um aspeto associado também à escolha de deixar de fumar.
Os profissionais de trabalhos mais duros, não só os referidos, mas também outros de componente industrial — como caixas de supermercado ou trabalhadores de call-centers -, muito rotinizado, com as mesmas vestes, com níveis de liberdade reduzidos e autonomia quase nula, encontram-se igualmente entre os grandes fumadores, acrescentou.
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