O Ministério Público julga ter descoberto não uma, mas duas contas bancárias que, estando em nome de outras pessoas (um pai e um filho), teriam como verdadeiro beneficiário o juiz e comentador Rui Rangel.
Uma delas era mesmo assim identificada, numa declaração escrita por um advogado que se suspeita ser um mero testa-de-ferro. As descobertas foram feitas durante as buscas do processo que tem como principal arguido José Veiga. Falta descobrir se o empresário de futebolistas era a única fonte que alimentava aquelas contas
Depois de deter o empresário José Veiga, em Fevereiro, por suspeitas de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, o Ministério Público concentrou-se em seguir o rasto do dinheiro que sairia das contas do homem conhecido pelas ligações ao futebol para contas de terceiros. Durante a pesquisa deparou-se com o nome de um jovem desconhecido que teria recebido milhares de euros de Veiga, sem uma razão evidente. Como o jovem é filho do advogado José Bernardo Santos Martins, os investigadores decidiram fazer buscas no escritório do pai, na Avenida de Berna, em Lisboa. Foi nesse dia que terão descoberto indícios de que uma das contas bancárias de Santos Martins seria, alegadamente, uma conta ao serviço de Rui Rangel, juiz do Tribunal da Relação de Lisboa e conhecido de Veiga desde que se uniram numa candidatura à presidência do Benfica, em 2012. Uma das inspetoras da Polícia Judiciária que acompanhava as buscas dirigidas pelo juiz Carlos Alexandre terá descoberto uma declaração apensa a registos dessa conta bancária dando conta de que aquele dinheiro pertenceria, na verdade, ao juiz desembargador.
Há suspeitas de que dessa conta sairiam montantes para a conta do filho do advogado e que, no final do trajeto, terminariam numa conta de Rui Rangel. Como se sabe? Porque durante as buscas foram também encontradas provas de depósitos numa conta do juiz, sempre abaixo dos 10 mil euros, como avançou o Correio da Manhã no passado fim-de-semana, e ainda emails do desembargador para o advogado Santos Martins, pedindo milhares de euros.
Os investigadores estão ainda a analisar os movimentos bancários para averiguar se a conta do advogado Santos Martins, tal como a do filho, seria alimentada com dinheiros de José Veiga, ou se os montantes ali depositados teriam outra proveniência. O Ministério Público suspeita que as duas contas – a do pai e a do filho – serviriam de “esconderijo” de dinheiro que teria como destinatário final o juiz desembargador.
A VISÃO tentou contactar o juiz Rui Rangel, mas não obteve resposta.
Por estarem em causa indícios criminais contra um magistrado, o caso foi remetido para o Ministério Público junto do Supremo Tribunal de Justiça. A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou esta semana a investigação ao juiz.
Na edição de 18 de Fevereiro, a VISÃO avançou em primeira mão que Rui Rangel tinha sido apanhado na teia de José Veiga, durante a investigação do processo batizado de Rota do Atlântico. Havia registos fotográficos de encontros entre Veiga e Rangel e quer Veiga, quer o seu sócio Paulo Santana Lopes, principais arguidos do processo, tinham sido confrontados com perguntas sobre o juiz desembargador durante os interrogatórios conduzidos pelo juiz Carlos Alexandre. Tudo porque já na altura a investigação liderada pela procuradora Susana Figueiredo suspeitava que Veiga teria ajudado o juiz desembargador a enfrentar dificuldades financeiras. Confrontado com esta informação, o juiz Rui Rangel não quis comentar. Depois, respondeu à publicação do artigo dizendo não haver qualquer fundamento para a afirmação de que José Veiga o teria ajudado financeiramente, pois a relação entre ambos giraria apenas em torno do Benfica, clube de que ambos são adeptos.
Fonte: VISÃO