Parece ser o pior momento da ASAE, a polícia que tem por função zelar pela defesa dos consumidores, a saúde pública e as atividades económicas.
O quadro não é ainda o de um filme de terror, mas assusta: redução de inspetores, operações pela rama, meios escassos ou obsoletos, menos processos e detenções, milhares de queixas à beira da prescrição, áreas sem fiscalização, há várias situações a fazer soar os alarmes, sobretudo quando a instituição perdeu recursos, mas viu aumentar as responsabilidades. Exemplo? A ASAE tem menos 150 inspetores do que no início, mas tem de zelar pelo cumprimento de quase 1300 diplomas, bem acima dos 700 dos primeiros anos.
O retrato dos riscos que voltam ameaçar a segurança alimentar e a saúde pública. Como referem os dirigentes da mais antiga associação sindical da ASAE, “só o brio profissional inexcedível dos funcionários tem evitado o pior”. Para ter uma ideia do que pode estar em causa, basta uma amostra dos dez “horrores” que a ASAE encontrou ao longo de 11 anos, fruto de investigação própria ou através de outras denúncias. Confira. E pense: quem nos garante que não volta a acontecer?
Cão congelado
Foi num restaurante chinês em Algueirão, Sintra. Um inspetor alimentar garantiu que o animal estava congelado numa arca frigorífica, embora, aparentemente, não estivesse preparado para ser confecionado. O DN falou do caso em 2013.
As panelas e os bolos “frescos”
No primeiro ano de operações, em 2006, a ASAE teve 36 brigadas em pastelarias, confeitarias e fábricas de ovos. Apanhou 400 quilos de alimentos estragados no meio de dejetos de ratos, baratas e lixo, arroz guardado em baldes do lixo, molhos em panelas cheias de bolor e pastelarias que congelavam e recongelavam os bolos vendendo-os como frescos. Não se sabia de onde vinham os ovos para fazer os cremes.
Pasta de dentes tóxica
Em julho de 2007, a Comissão Europeia lançou alerta sobre exemplares de pasta de dentes tóxica encontrada em lojas de produtos baratos. Eram tubos contrafeitos importados da China e da África do Sul, imitando a marca Colgate. Estavam à venda em lojas de Lisboa.
Vinho verde…de Pinhel
Em 2012, uma brigada de vinhos da ASAE desmantelou um esquema de falsificação de vinhos verdes de região demarcada com uvas provenientes do centro do País (Pinhel).
Barca Velha falso
A mais famosa marca de vinho de excelência também já foi vítima de falsificação. Mais de uma centena de garrafas foram detetadas, com falsa rotulagem e vinho de inferior qualidade. Algumas estavam à venda no aeroporto.
Pescado…por lebre
Nos restaurantes e supermercados já apareceram cherne e garoupa trocados por perca do Nilo (mais barata), peixe-gato no lugar de pescada, potas em vez de lulas, embalagens de bacalhau com natas por fora, mas migas de paloco dentro. Se lhe garantirem que o robalo ou dourada do mercado são de mar, desconfie: podem vir do “aviário”, a aquacultura. Já agora: uma das manipulações para o peixe parecer fresco deitar sangue da cabidela nas guelras. Se pensa que é só um problema nosso, esqueça: as fraudes atingem o coração da eurocracia. Testes científicos realizados pela ONG Oceana, baseados em 280 amostras de peixe recolhidas em mais de 150 restaurantes de Bruxelas e instituições europeias, revelaram que os consumidores pagam, por vezes, um preço sem correspondência com a espécie consumida. “Não são, necessariamente, os restaurantes que estão a enganar as pessoas. Podem ser os distribuidores”, apontou Lasse Gustavsson, da Oceana, desafiando a União Europeia a melhorar o sistema de controlo da origem e rotulagem do peixe.
Carne para as romarias
Em 2014, a ASAE fechou um matadouro ilegal em Penafiel, onde cerca de 100 animais, depois de mortos e sem condições de higiene ou sanitárias, eram destinados ao consumo em festividades de verão.
Ameijoa contaminada
Em julho de 2015, a ASAE encontrou ameijoa contaminada com bactéria fecal em oito restaurantes de Almada.
Kebabs impróprios
Em agosto de 2015, a ASAE apreendeu 7,5 toneladas de produtos alimentares no Festival Street Food, de Portimão, na maioria kebabs. Eram confecionados com carne imprópria para consumo proveniente de barracões no Montijo e em Loulé.
Leitão de fugir
Já este ano, em abril, a ASAE apreendeu mais de 7,5 toneladas de leitão num entreposto frigorífico em Ílhavo. Não havia documentos e já não estavam em condições de consumo.
Fonte: visão