O neurologista Rustem Samigullin contou a história de IdrinQ, bebida que, segundo ele, tornará a vida das pessoas mais fácil.
A história tem dois inícios, que nos levam a caminhos distintos. O primeiro está ligado à área medicinal: em meados da década de 1990, a equipe internacional de cientistas, liderada por Samigullin, realizava uma pesquisa sobre um antioxidante chamado de ácido alfa-lipoide.
A pesquisa visava combater, entre outras coisas, problemas neurológicos provocados pelo diabetes. Esta doença pode causar desconfortos neurológicos aos portadores.
“O nosso grupo foi o primeiro a provar que as injeções intravenosas de ácido alfa-lipoide não só permitem conter a progressão da doença, mas também revertê-la <…> Mas injeções intravenosas implicam muito trabalho. Pode ser considerado um luxo pelo valor, sendo assim, nem todos os pacientes com diabetes podem custeá-lo, especialmente se levarmos em consideração países de terceiro mundo”, diz o pesquisador.
A eficiência das injeções intravenosas foi provada em 1999, dando início à segunda etapa: comprimidos. Esta forma de organização oral de medicamento pode ser considerada mais vendida se comparada às outras, mas seu efeito está interligado às propriedades individuais de cada organismo. Um ano de testes foi suficiente para que, em 2000, os pesquisadores pensassem na possibilidade de criação de uma versão líquida do medicamento já que, entre todas as formas, a líquida atua mais rapidamente no organismo, pois o intestino aceita os elementos ativos essenciais da composição mais facilmente.
“O ácido alfa-lipoide tem um gosto ruim. Mesmo que a pessoa faça um esforço e consiga tomar dois goles, a pessoa vomita dentro de um minuto e meio. Este problema ficou muito tempo sem solução, por isso nós decidimos dar uma pausa. Sendo assim, falhamos na criação de remédio na forma líquida para diabéticos por não ser possível tomá-lo.”
A trama médica se despede aqui, dando início ao outro caminho. Durante uma época da vida, Rustem prestou serviços médicos para os membros de um time de corrida de automóveis russo. Em viagem à França com a equipe, ele descobriu uma marca de comprimidos cujo componente ativo era o L-arginina, aminoácido bastante importante para o organismo. Naquela época, esse comprimido era uma novidade para os russos. Todos os esportistas tomaram a novidade. Depois disso, de acordo com eles, o comprimido trouxe êxito não somente no esporte, mas na vida sεxuαl.
E daí a decisão de misturar a L-arginina e o ácido alfa-lipoide. Para isso, Rustem Samigullin e um amigo seu, cientista alemão Klaus Wessel, se mudaram para na Sibéria, onde trabalhavam em uma fábrica de Kurgan.
O problema do mau gosto foi resolvido depois de um tempo (graças ao Klaus, diz Rustem) e os pesquisadores começaram a tomar a porção; e depois, “coisas maravilhosas” começaram a acontecer. Viagens de carro de 200 km de ida ao trabalho e 200 km de volta (não era possível morar em Kurgan, por isso os amigos tiveram que procurar residência temporal em Tyumen, mas Rustem não lamenta) deixaram de ser exaustivas, o sono se normalizou (os dois se levantavam de manhã com todo o gás, brinca o pesquisador, lembrando a ação da L-arginina). A ideia de abandonar a ingestão de bebidas puramente medicinais por um produto que regula a saúde “de todos na terra” começou a ser defendida pelos pesquisadores que acreditam na importância do “abandono dos venenos, chamados erroneamente de bebidas energéticas”.
“De energia, só têm o açúcar, a sensação de vivacidade é provida de diversos estimulantes. Essas bebidas aceleram a pressão e o pulso, provocando a sensação de esperteza. É a mesma coisa de bater com os pés na barriga do cavalo: ele vai andar primeiro, mas o resultado final é conhecido por todos. No entanto, a real tarefa não é dar uma batida no organismo, e sim dar-lhe de beber, dar-lhe energia para que ele possa seguir”, diz Samigullin, especificando: “Nossa circulação sanguínea melhorou e, ao mesmo tempo, o processo de absorção de glicose pelas células apresentou resultados significativos. Nós não defendemos a utilização de estimulantes, pois não se deve recomendar tais substâncias a diabéticos”.
O problema do mercado
IdrinQ é um projeto conjunto russo-alemão, mas a criação de Samigullin e Wessel é patenteada em vários países do mundo. A tecnologia de obtenção do produto final, inicialmente bastante cara (vale ressaltar que diferente da Coca Cola, por exemplo, a composição da bebida não utiliza pó concentrado), está a um preço razoável. Contudo, a bebida não é muito conhecida, mesmo já tendo distribuídos lotes em 2014 e 2015. O objetivo do produto, no entanto, é ocupar um espaço no mercado de alimentação.
“Isso não é um medicamento. Até porque se tivéssemos permanecido no ramo da medicina, tudo seria mais fácil: você participa de palestras em congressos da área, publica alguns artigos e, como resultado, uma fila de empresas propõe diversas opções de encaixe do seu produto no mercado. Isso porque as empresas na área médica são bastante famintas, e o dinheiro que circula lá é enorme. O que diz respeito ao mercado de alimentação, você pode até criar o melhor produto do mundo, mas se você não tem capital para a promoção do produto, nada vai dar certo. Esta é a grande diferença. Nós acreditávamos ingenuamente que alguma empresa como Red Bull, ao saber sobre a gente, iam comprar nossa ideia rapidamente, reestruturando o seu sistema de produção para começar, em vez de envenenar as pessoas, produzir um produto realmente bom. Mas isso não aconteceu, nós não despertamos o interesse de ninguém, principalmente por sermos um grupo pequeno e por isso ninguém nos conhece.”
É bastante difícil lidar com os “monstros” do mercado, admite Rustem. O mercado tem seus reinos já: “Tente despertar uma pessoa de noite perguntando o que é preciso para acordar ativo, e ela vai te responder que é o Red Bull”. Portanto, uma campanha de promoção agressiva é precisa; entre as ideias citadas pelo inventor, há os slogans “bebida de gente criativa”, “bebida para pessoas ambiciosas”. Quanto a isso, ele acredita que há mais pessoas ambiciosas em Moscou e São Petersburgo, sendo a Rússia o primeiro mercado desejado por ele, porque o consumidor russo é “inovador” e “nem um pouco tradicional”. No entanto, mercados internacionais entram na lista do pesquisador russo.