Os incêndios já deram a lucrar aos privados cerca de 48 milhões de euros. O balanço dos últimos dez anos de prevenção é negativo e os meios aéreos não utilizados no combate às chamas dos últimos dias geram controvérsia e polémica.
A informação foi avançada pelo Secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, que afirmou que “A indústria do fogo dá dinheiro a muita gente”.
De acordo com o portal Base do Governo, a Everjets, empresa de Domingos Névoa, apresentou um valor de negócio que ascendeu os 48,127 milhões de euros para operar e manter os helicópteros pesados ao serviço da Autoridade Nacional da Proteção Civil durante quatro anos, avança o jornal Correio da Manhã. Depois de adjudicado, o negócio chegou a ser alvo de investigação por parte do Departamento Central de Investigação e Ação Penal e da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ.
Fora deste valor está uma situação ocorrida em abril deste ano, quando deveriam estar disponíveis seis helicópteros pesados para combater fogos, no entanto, um terá caído e outros dois terão estado avariados. Jorge Gomes afirmou, na altura, que o assunto “já foi discutido em sede de Orçamento de Estado na Assembleia da República”. Estes helicópteros “só deverão voltar a operar em 2017”.
Face a toda esta conjuntura, relembre-se a situação dos incêndios na Madeira na semana passada, cujo Plano Estratégico para o Dispositivo de Socorro da Madeira não incluía a utilização de meios aéreos. De acordo com o especialista que comandou o Plano, Luciano Lourenço, Diretor do Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, o investimento necessário era “demasiado elevado para as consequências positivas que poderia ter no combate aos incêndios”.
A Força Aérea Portuguesa respondeu também à polémica, afirmando não ter meios para ajudar a combater os incêndios, não excluindo a possibilidade de os “poder ter num futuro próximo”. A mesma entidade relembra ainda que “há 20 anos foi pensado um sistema capaz de adaptar algumas aeronaves para poderem combater incêndios, mas que o plano foi descontinuado”. Nos incêndios dos últimos dias, importa lembrar que os meios aéreos utilizados não eram portugueses, vinham de ajudas europeias.
Ricardo Ribeiro, académico, dirigente associativo e comandante de bombeiros, fez um balanço dos últimos dez anos de combate a incêndios e classificou-o como negativo. Em declarações à agência Lusa, o dirigente defendeu que as boas práticas da população devem ser matéria do sistema de ensino e que devem existir campanhas publicitárias. Afirmou que os bombeiros deveriam ter também mais formação, que deveria ser criado um sistema de incentivos públicos para o ordenamento do território e para limpeza do biocombustível e que deveriam ser implementados meios permanentes de combate a fogos a partir de março. Defendeu ainda que deveriam ser criadas medidas sociais para pessoas até aos 50 anos, para combater a desertificação, criados incentivos fiscais para fixação de jovens no campo ou apostar na videovigilância. O responsável defende também a criação de equipas de intervenção que atuem no fim do inverno, a criação de medidas de intervenção e prevenção, e que os terrenos junto de estradas e casas sejam efetivamente limpos.
“Nesta problemática, há a prevenção, a resposta [ao fogo] e a reposição da normalidade. Mas, em Portugal, incide-se especialmente na resposta, esquecendo-se a prevenção e a reposição da floresta”, disse Ricardo Ribeiro à Lusa, acrescentando: “Portugal foi o país europeu que menos reflorestou nos últimos 20 anos”.
Em média, a cada ano, ardem 150 mil hectares de floresta e em 2013 ardeu quase meio milhão de hectares. Entre 2002 e 2013 morreram, devido aos incêndios, 97 pessoas, 51 delas bombeiros.
Os incêndios, como os dos últimos dias, provocam um prejuízo médio anual “superior a duas centenas de milhões de euros”, mais outros 200 milhões em prejuízos ambientais e materiais, disse o responsável.
Uns ganham milhões, outros passam fome
Os privados lucram milhões com a “indústria dos incêndios”, no entanto, há quem os combata e, muitas vezes, não tenha as condições básicas para o fazer. Os Bombeiros de São Pedro do Sul viveram, durante a noite e manhã de deste domingo, sem apoio logístico, chegando mesmo a bater à porta de casa dos populares a pedir bolachas. José Manuel Moura, comandante da Autoridade Nacional da Proteção Civil, classificou a situação como uma “falha inacreditável” e disse que ia investigar o sucedido.
Fonte: Porto Canal