Fabricantes desta droga sintética contornam a legislação e conseguem colocar no mercado uma droga barata, com composição química variável mas com efeitos sempre devastadores. O problema começou por ser mais visível nos EUA, atravessou fronteiras e não pára de crescer
Consumir K2 é uma roleta russa. Também conhecida como Spice ou, muito simplesmente, marijuana sintética, a designação da droga varia mas é ainda mais variável a sua composição, o que dificulta a avaliação dos seus efeitos, por um lado, e por outro torna mais fácil manter a substância na fronteira da legalidade, ao integrar componentes químicos mais ou menos permitidos, mas em misturas e dosagens cujas consequências são devastadoras.
Na verdade, esta é uma droga que nada tem que ver com a marijuana, não sendo sequer uma planta. Em 2012, quando um dos primeiros surtos de consumo fez disparar todos os alarmes nos EUA, as autoridades perceberam estar a lidar com um alucinogéno particularmente perigoso e apressaram-se a emitir alertas, chamando a atenção para os riscos extremos de o consumir.
Ansiedade elevada, comportamento violento, espasmos e alucinações – são casos detetados que levaram a que os consumidores fossem apelidados de “zombies”, tal a sua aparência física, os desmaios frequentes e a forma como ficavam inertes no chão sob o efeito da K2.
Apesar dos avisos, o consumo de marijuana sintética tem continuado a aumentar e, como sempre acontece quando se fala de estupefacientes, ultrapassou fronteiras.
Ao caso de uma jovem de 16 anos que ficou cega, paralisada e mentalmente diminuída devido aos AVC sofridos após ter fumado K2, outros se somaram, igualmente graves ou mesmo fatais.
Muitas vezes vendida com a designação de adubo ou incenso, é difícil lutar contra uma droga que contorna as proibições legais – é abertamente vendida em lojas autorizadas e ainda por cima a preços acessíveis. Por mais que seja testada, em cada pacotinho – onde a informação sobre a composição do produto é nula – as análises encontram sempre ingredientes diferentes. Não é raro acusarem a presença de pesticidas ou veneno para ratos, mas também são frequentes misturas químicas que incluem cimento ou derivados próprios para aromaterapia.
É, assim, impossível saber o que se está a consumir e que efeitos esperar. O aspeto inofensivo das embalagens, geralmente pacotes coloridos parecidos com os das gomas, disponíveis com diferentes cheiros de fruta, não pode ser mais enganador. Mas ainda há quem acredite que, pelo facto de serem vendidos a 10 dólares (menos de dez euros) e em locais como postos de gasolina, por exemplo, não podem ser substâncias assim tão perigosas.
A Agência Antidrogas dos Estados Unidos afirma que os fabricantes de marijuana sintética compram as substâncias químicas através da internet. Importam-nas de laboratórios chineses, que comercializam a droga como “vitaminas” ou “tinta para impressoras”, forma de contornar os controlos alfandegários.
Aos compostos químicos juntam depois acetona, sabores sintéticos e folhas secas de damiana (arbusto que é uma planta medicinal), num processo que é levado a cabo em laboratórios clandestinos, permitindo a produção de grandes quantidades de K2. Em alternativa, a droga pode ser comprada já ‘pronta’ a vendedores internacionais.
Os números são assustadores. Entre janeiro e maio de 2015, o Centro norte-americano de Controlo e Prevenção de Doenças registou um aumento de 229% no número de chamadas efetuadas para os centros de envenenamento por causa do consumo de marijuana sintética.
Fonte: expresso