O tenente Ricardo Bártolo comanda os militares da GNR que se encontram a vigiar a costa grega no âmbito da operação Frontex. Ao Observador conta como já resgatou dezenas de migrantes.
Uma embarcação sobrelotada de migrantes, muitas crianças e uma mulher grávida, com uma criança com menos de um ano nos braços e outras duas pelas mãos.
Este foi o cenário que mais marcou o tenente Ricardo Bártolo, desde que, no dia 1 de abril, começou a comandar 11 militares da GNR no âmbito da operação Frontex. Em entrevista ao Observador, o oficial explica como é o dia-a-dia dos militares que controlam a costa grega e que já resgataram 175 migrantes e socorreram 148 pessoas.
É a primeira missão internacional em que participa?
Nestes moldes sim, esta é a minha primeira missão no comando de uma força nacional destacada numa Operação da Frontex. Participei individualmente o ano passado, numa missão de intercâmbio de efetivos de diferentes forças internacionais em patrulhamentos conjuntos, tendo integrado a tripulação de uma aeronave da Guardia Civil de Espanha, durante uma semana, em patrulhamento sobre o mar de Alborão.
Como é o dia-a-dia dos militares que integram a Frontex?
Esta força destacada é constituída por duas tripulações que diariamente e alternadamente efetuam patrulhamentos noturnos junto à fronteira com a Turquia. Durante o dia efetuam-se as tarefas de limpeza da lancha e manutenção dos motores e equipamentos eletrónicos, assim como se garante a preparação logística e planeamento operacional que antecede o patrulhamento seguinte.
Como foi o primeiro resgate de migrantes?
Durante uma patrulha, recebemos a informação por rádio de uma possível situação de busca e salvamento, dirigimo-nos para o local imediatamente e deparamo-nos com uma embarcação de recreio com cerca de seis metros sobrelotada à deriva com muitas crianças no seu interior. A nossa maior preocupação prendeu-se com o estado de saúde das pessoas a bordo e a estabilidade da embarcação, se seria capaz de chegar a terra em segurança, pois caso começasse a afundar iria comprometer a operação de resgate. Felizmente a operação correu bem e conseguimos trazer para terra em seguranças 21 pessoas, entre elas sete crianças.
Já percebeu que histórias existem por trás destes migrantes? O que os leva a colocarem a sua vida em risco?
O fluxo migratório nesta ilha, não é somente oriundo da Síria, mas também de outros países como o Afeganistão, Paquistão, Palestina ou Egito, sendo que, o que estes migrantes têm em comum, independentemente da nacionalidade, é a esperança de alcançar um local para iniciar uma nova vida para si e para os seus filhos que garanta melhores condições em termos de segurança e estabilidade. Muitos dos migrantes chegam pelas mãos das redes de organizadas de auxílio aos fluxos migratórios que colocam imigrantes das diferentes origens na mesma embarcação que é posteriormente projetada em direção à Europa, muitas vezes sem condições de alcançar a outra margem.
Qual a reação dos migrantes quando os localizam?
Na situação relatada anteriormente, os migrantes ansiavam desesperadamente por auxílio, encontravam-se num pequeno barco sem combustível, à deriva a duas milhas da costa no escuro da noite. Foi um alívio para aquelas pessoas a nossa presença no momento efetuámos o contacto visual. A partir desse momento mantiveram-se sempre cooperantes e serenas durante todo o processo de resgate até chegarmos a terra.
Nas embarcações conseguem perceber quem são as pessoas responsáveis pelo transporte destes migrantes?
Se existirem agentes facilitadores, a sua identificação é bastante difícil no momento do salvamento, estes estão dissimulados no meio dos migrantes. No entanto, no momento do contacto com a embarcação, tentamos perceber se existe alguma pessoa em posição de liderança no grupo ou que esteja a controlar a situação. Posteriormente já em terra, são feitas entrevistas aos migrantes, verificados os documentos individuais e verificada a nacionalidade, para que, com base nos dados obtidos, se possa determinar a presença de um agente facilitador.
Como se organiza o trabalho da GNR com as outras entidades presentes no terreno?
Existe um contacto permanente com autoridades Gregas, em particular com os efetivos Guarda Costeira Helénica, com quem articulamos os nossos patrulhamentos diários por forma a rentabilizar os esforços de pesquisa. Por esta força local, é sempre garantido um elemento que nos acompanha nos patrulhamentos diários. Cooperamos diretamente também com as forças terrestres que nos dão apoio no desembarque e controlo dos migrantes, nomeadamente, a polícia grega e as forças dos vários países que integram a Frontex em Kos, assim como, com as equipas de especialistas que executam o controlo e registo dos migrantes em terra.
Há algum caso que o tenha marcado mais?
Neste salvamento que fizemos no dia 19 de abril, recordo-me que da embarcação de migrantes, desembarcou uma mulher de nacionalidade síria com cerca de vinte e poucos anos, grávida, que estava sozinha com uma criança ao colo, com idade inferior a 1 ano e mais duas crianças pequenas com cerca de 3 e 5 anos.
Fonte: observador