Em Vila Real os rapazes dão a gancha às raparigas e depois pedem-lhes o “pito”
Este domingo é dedicado a São Brás. Em Vila Real manda a tradição que os rapazes de Vila Real ofereçam a gancha às raparigas. Mas elas ficam em dívida. A 13 de Dezembro, dia de Santa Luzia, terão de dar-lhes o pito.
Uma tradição que começou por ser religiosa e que com o tempo ganhou cariz popular.
Repete-se ano após ano. Uma troca que também já se estende a familiares e amigos, e que não dispensa uma boa dose de brejeirice.
A gancha é açúcar e água. Assim simples. Um doce típico de Vila Real em forma de bengala, inspirado no báculo de São Brás, que foi bispo, e cuja associação não tem uma explicação muito bem definida.
O JN foi ver como se fabricava na Casa Lapão. Um estabelecimento que se empenha na produção de pastelaria conventual fiel à receita tradicional. “Há quem lhe acrescente outras coisas, mas nós, aqui, é só mesmo água e açúcar. Este vai numa panela ao lume e fica líquido, depois vertemos sobre a banca de pedra e conforme vai arrefecendo moldamo-lo”, explica Álea Zita.
Enquanto molda as ganchas, esta pasteleira de 31 anos da Casa Lapão lembra a lenda de São Brás, padroeiro das doenças da garganta: “Uma criança estava engasgada com uma espinha na garganta e não havia maneira de lha tirarem. Então, São Brás usou uma espécie de gancha feita de açúcar e meteu-lha na boca. A criança colaborou porque a gancha era doce e conseguiu tirar-lhe a espinha. A partir daí ficou a tradição da gancha”.
Não há registos históricos de quando começou a tradição. Certo é que quem passar pela zona da Vila Velha de Vila Real, este domingo, para além de ouvir os sinos repicar na igreja de São Dinis ainda poderá ver as “marianas”, mulheres pertencentes a uma família antiga conhecida pela tradição do fabrico das ganchas.
O negócio desenvolve-se por ali, nomeadamente junto à capela de São João Esquecido, que muitos confundem com a de São Brás, que ficou no interior do cemitério quando este foi construído.
E o pito? O pito é outro doce, não tão simples como a gancha. São feitos de massa quebrada em forma de quadrado cujos cantos são dobrados para dentro, guardando no seu interior doce de abóbora e canela.
“Tem o formato de uma espécie de penso antigo, que com pomada no meio se colocava na vista quando havia problemas”, começa por explicar o diretor do Museu da Vila Velha, João Ribeiro da Silva, salientando que a relação com Santa Luzia terá a ver com o facto de ela ser a “padroeira dos doentes com problemas de olhos”.
Foi para explicar a relação entre os dois doces e as tradições associadas que aquele museu promoveu este sábado uma iniciativa que pretendeu também esclarecer a relação entre a capela de São Brás e a capelinha do Santo António Esquecido, que fica mesmo à porta do museu.
O destino final foi a Casa Lapão, para os participantes verem confecionar as ganchas. Nesta altura chegam a ser feitas 100 por dia. É um produto muito restrito ao São Brás, enquanto os pitos são produzidos durante todo o ano.
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